RJ tem mais de 90 mulheres agredidas todos os dias, diz ISP

RJ tem mais de 90 mulheres agredidas todos os dias, diz ISP

28 de janeiro de 2021 0 Por Francisco Avelino

Ao todo, foram 33.372 vítimas de lesão corporal entre janeiro e dezembro de 2020. O número é inferior ao índice do mesmo crime em 2019, quando 41.366 mulheres sofreram agressão. Queda teve influência da pandemia, explica autoridades.

RJ tem mais de 90 mulheres agredidas todos os dias, diz ISP

O estado do Rio de Janeiro tem em média mais de 90 mulheres agredidas todos os dias, segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP-RJ) obtidos pelo G1 com exclusividade.

O índice leva em consideração os números consolidados da violência contra mulher no ano de 2020. Ao todo, foram 33.372 vítimas de lesão corporal entre janeiro e dezembro.

Apesar do número expressivo, o dado traz uma queda em relação ao ano de 2019, quando 41.366 mulheres sofreram agressão. Autoridades, no entanto, explicam que a queda se deve em certa medida ao período de pandemia, com início em março.

“A violência contra a mulher não está acabando no Rio de Janeiro, apesar dos números terem diminuído com relação ao ano anterior. Ainda é um número preocupante, principalmente, se a gente levar em consideração as mulheres que morreram pelo simples fato de serem mulheres”, disse a diretora-presidente do ISP-RJ, delegada Marcela Ortiz.

Violência contra mulher no Rio em 2020 — Foto: Anderson Cattai/G1

Violência contra mulher no Rio em 2020 — Foto: Anderson Cattai/G1

“Nós não podemos nos esquecer que 2020 foi um ano bastante atípico por causa da pandemia, teve a questão do isolamento social. Houve dificuldade no deslocamento das vítimas para denunciar os crimes e com isso a possibilidade de subnotificação desses crimes”, completou a diretora.

Mais de 80 mulheres sofrendo ameaças no RJ diariamente

Os números mostram ainda que o RJ teve mais de 80 mulheres sofrendo ameaças todos os dias. Mais de 30,4 mil vítimas em 2020, enquanto 2019 o índice chegou a marca de 41 mil ameaças.

A diretora do Departamento Geral de Polícia de Atendimento à Mulher (DGPAM), delegada Sandra Ornellas, explica que não há necessidade de maus tratos físicos para realizar um registro de ocorrência. Ameaças e xingamentos já configuram crime e deve ser notificado à polícia.

“Eu falo para essas mulheres que a violência não é só física, não espere que chega até violência física. Não é normal uma mulher ser julgada pelo homem porque ela não fez a comida direito, porque está sem sal ou porque no meio de múltiplas tarefas ela esqueceu alguma outra”, disse a delegada Sandra Ornellas.

“Ela não tem que temer se ela está sofrendo um xingamento ou empurrão, isso já é violência. Ela tem que ser tratada como pessoa antes de tudo. Que ela não espere que essa violência se agrave para procurar ajuda”, completou a diretora do DGPAM.

Mais de 70 mulheres mortas em 2020

Roberta Pedro de Oliveira, de 26 anos, está entre as mais de 70 mulheres mortas no ano passado. — Foto: Arquivo Pessoal/Maria Auxiliadora

O levantamento do instituto traz ainda a informações sobre casos de feminicídio. Foram 77 mulheres mortas em 2020 apenas pelo fato de serem mulheres. No ano anterior, o estado registrou 85 vítimas.

Roberta Pedro de Oliveira, de 26 anos, está entre as mais de 70 mulheres mortas no ano passado. No final de 2020, ela foi assassinada a facadas no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, pelo ex-marido Paulo Soares. Ele confessou o crime.

A vítima e o assassino eram primos de primeiro grau e estavam juntos desde que Roberta tinha 14 anos. Em conversa com o G1, Maria Auxiliadora de Oliveira, mãe de Roberta, contou que a filha era uma pessoa muito fechada e que não costumava falar sobre o que estava acontecendo.

Roberta foi morta a facada pelo ex-marido, Paulo Soares. Eles eram primos de primeiro grau — Foto: Reprodução

A família só soube que Roberta queria se separar porque ela chamou a mãe para passar o final do ano em sua casa. As duas não se viam há 8 anos.

“Ele disse que tinha aceitado a separação, mas fez tudo premeditado. Inclusive, ele falou que tinha comprado um presente de natal para ela. Quando Roberta foi buscar as coisas dela na casa em que eles moravam, ela a esfaqueou. Hoje, eu penso que o presente eram as facas que ele comprou pra matá-la”, lamentou Maria Auxiliadora, que mora no Pará.

Maria ressaltou que nunca soube de agressão física sofrida pela filha, mas que achava o comportamento do genro estranho.

“Ele nunca fez questão de ter contato com a gente. Sei que eles discutiam, tinha xingamento, mas ela nunca falou nada de agressão. Tudo isso é muito doloroso, uma ferida que vai demorar a cicatrizar. Estou sofrendo muito com essa dor e não desejo que nenhuma mãe passe por isso”, acrescentou a mãe de Roberta, emocionada.

A diretora-presidente do ISP-RJ, delegada Marcela Ortiz, afirmou que o feminicídio é o último degrau de uma escalada de violência. Para ela, a denúncia é importante, para que a mulher na sofra a pior das consequências de um relacionamento abusivo.

“Até se chegar a esse crime, que culmina com a retirada da vida da vítima, nós temos diversas formas de agressão. (…) Temos a violência emocional, violência psicológica, violência verbal. É necessário que fiquemos atento para que essa escalada seja interrompida antes que se chegue ao topo com a retirada da vida”, afirmou.

Como denunciar

Central de Atendimento à Mulher do governo federal – ligue 180

Polícia Militar – ligue 190

Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), órgão da Defensoria Pública do Rio – telefones (21) 23326371; (21) 23326370; (21) 972268267 ou e-mail – nudem@defensoria.rj.def.br.

Fonte: G1