Haddad defende Galípolo após novo aumento dos juros pelo Copom: ‘Não dá para dar um cavalo de pau depois que assume’

Haddad defende Galípolo após novo aumento dos juros pelo Copom: ‘Não dá para dar um cavalo de pau depois que assume’

20/03/2025 0 Por Francisco Avelino

Ministro ressaltou que aumento da Selic “estava contratado pela última reunião do Copom do ano passado”

Brasília

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu em defesa do novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, após o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir elevar a taxa Selic para 14,25%. Segundo Haddad, a atual diretoria do BC herdou compromissos da gestão anterior e precisa administrar essa transição com cautela. As declarações foram feitas durante sua participação no programa Bom Dia, Ministro.

— Na última reunião você contratou três aumentos bastante pesados na Selic. Você não pode na presidência do Banco Central dar um cavalo de pau depois que você assumiu. Isso é uma coisa muito delicada — afirmou.

Haddad comparou a situação enfrentada por Galípolo com o desafio que encontrou ao assumir a Fazenda após a gestão de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro.

— Os novos presidentes, novos diretores, têm uma herança a administrar, mais ou menos como eu em relação ao Paulo Guedes. Não foi fácil manter o país funcionando depois de 2022. Em 2022, foi feito um estrago nas contas públicas para garantir o resultado eleitoral que você não pode imaginar —criticou.

O ministro destacou que transições tumultuadas representam um problema, mas ele reforçou que acredita na competência da nova diretoria do BC e que tanto a autoridade monetária quanto o governo têm metas exigentes a cumprir.

Durante sua participação no programa, Haddad minimizou os resultados da pesquisa da Genial/Quaest que indicaram um aumento na sua rejeição entre agentes do mercado financeiro. O ministro questionou a metodologia do levantamento e comparou o resultado a uma conversa informal.

— Olha, depende de onde você fizer a pesquisa, vai sair de um jeito. Se você vai na Faria Lima e consulta as pessoas… 106 pessoas na Faria Lima consultadas e dizer que isso é uma pesquisa, é dar um nome muito pomposo para uma coisa que deve ter sido feita em 15 minutos —afirmou Haddad.

Isenção de IR foi estudada por mais de um ano

Haddad também declarou que a proposta de isenção do Imposto de Renda foi meticulosamente estudada por mais de um ano e que a oposição não terá motivos para rejeitá-la. Segundo ele, a medida corrige distorções históricas e busca justiça tributária sem aumentar a carga de impostos sobre os contribuintes.

— A proposta foi muito bem recebida porque quem vai pagar essa conta é quem hoje não paga Imposto de Renda. Estamos falando de justiça tributária. É uma das coisas mais justas que se poderia fazer, me pergunto por que não se fez isso antes — afirmou Haddad.

Projeto da reforma do Imposto de Renda enviado ao Congresso nesta semana prevê a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Os que ganham entre esse valor e R$ 7 mil também terão alívio tributário.

Para compensar a perda de arrecadação, a ideia é ter uma tributação mínima de 10% sobre a alta renda. No alvo desta medida estão 141 mil contribuintes que têm rendimentos superiores a R$ 600 mil anuais (acima de R$ 50 mil por mês), a serem taxados com alíquotas que crescem de forma linear até alcançar 10% para os com renda maior que R$ 1,2 milhão por ano.

Infográfico reforma do Imposto de Renda: Impacto das medidas — Foto: Arte O Globo
Infográfico reforma do Imposto de Renda: Impacto das medidas — Foto: Arte O Globo

O ministro enfatizou que a proposta não implica aumento de impostos, mas sim uma redistribuição mais equitativa da carga tributária.

— Atualizar a tabela do Imposto de Renda é populismo? Essa proposta não tem um centavo de aumento de imposto. Você simplesmente troca de mão: cobra de quem não paga e isenta quem hoje está pagando além da conta — explicou.

Haddad também garantiu que a medida não afeta os super-ricos que já pagam imposto, mas sim aqueles que, até então, conseguiam driblar o sistema.

Infográfico reforma do Imposto de Renda — Foto: Arte O Globo
Infográfico reforma do Imposto de Renda — Foto: Arte O Globo

Compensação para estados e municípios

Outro ponto abordado pelo ministro foi a preocupação com possíveis perdas de arrecadação para estados e municípios. Haddad garantiu que haverá compensação, de modo que não haja prejuízo.

— Quando você faz o cálculo, é como se você estivesse abrindo mão da receita, mas nós não estamos. Estamos cobrando dos super-ricos que não pagam. Quando eles começarem a pagar uma alíquota mínima de 10%, você compensa — afirmou.

Isenção de ICMS em alimentos

O ministro aproveitou para criticar a postura de governadores que, segundo ele, tentam se apropriar das ações do governo federal. Durante a conversa, Haddad alfinetou, sem citar nomes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sobre a isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em alimentos da cesta básica.

— Outro dia eu vi um governador falando que isenta a cesta básica. Perguntaram para ele: ‘Mas e a carne? E o ovo?’, e aí não tava na cesta básica do governador. Então, é muito fácil fazer fake news e dizer que já fez tudo, que está fazendo a lição de casa. Está fazendo a lição de casa às custas do governo federal —disse o ministro.

Compromisso do governo

O ministro também afirmou que a atual gestão sempre teve o compromisso de revisar a tabela do Imposto de Renda e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o encarregou de estudar a viabilidade da proposta.

— O presidente Lula, desde o primeiro dia, disse: ‘Haddad, você sabe que eu não faço promessa para pagar eleição’. Ele falou: ‘Você tem tempo, sei que é uma proposta complexa e difícil, mas estude o assunto porque, uma hora, gostaria de chamar você ao palácio para explicar como vamos viabilizar isso’. Colocamos os melhores técnicos debruçados sobre isso — relatou o ministro.

Segundo Haddad, a proposta estava prevista para ser enviada no final de 2024, mas foi adiada para ajustes finais.

—Já era para ter sido mandada no final do ano passado, mas o presidente adiou porque não gostou de um determinado dispositivo — explicou.

Fonte: O Globo.com