Morre aos 78 anos o jornalista Mario Dias, em Niterói

Morre aos 78 anos o jornalista Mario Dias, em Niterói

24 de março de 2021 0 Por Francisco Avelino

Niterói perdeu hoje um de seus maiores e melhores jornalistas. Faleceu há pouco Mário Dias, de 78 anos, após sofrer três paradas cardíacas enquanto era submetido a uma cirurgia para a retirada de um tumor no intestino. Uma das figuras mais alegres e conhecidas da cidade, ao longo de mais de meio século de profissão teve passagens importantes por veículos como “Luta Democrática”, “O Dia”, “O Fluminense”, “O Jornal”, e “Diário Fluminense”, “Jornal de Icaraí” “Diário do Povo de Niterói”, entre outros. Mário três filhos e dois netos. O último adeus da família e amigos será no Cemitério São Gonçalo.

Mas foi em A TRIBUNA que Mário, com a coragem que era uma de suas maiores marcas, escreveu seu nome na história do jornalismo brasileiro. Em 1972, quando o jornalista Jourdan Amóra foi preso, dentro da redação do jornal, Mário não se abateu e publicou no dia seguinte uma capa histórica, com os dizeres “Libertas quae sera tamen”.
Ganhou notoriedade nacional e internacional também a reportagem sobre o famoso “Caso das Máscaras de Chumbo”, em 1966.

O Mistério das Máscaras de Chumbo (TV Globo, 1990)
O Diario do Povo de Niterói Repórte Policial Mário Dias

No dia 17 de agosto daquele ano, os técnicos em eletrônica Miguel José Viana, 34 anos, e Manuel Pereira da Cruz, 32 anos, desembarcaram na Rodoviária de Niterói no início da tarde. Miguel e Manoel foram encontrados mortos no alto do morro no dia 18 de agosto. Sem marcas de tiros ou facadas, os dois traziam nas mãos estranhas máscaras de chumbo e o seguinte bilhete cifrado: “16:30hs está no local determinado 18:30hs ingerir cápsula, após efeito proteger metais aguardar sinal máscara”. O caso foi amplamente explorado por Mário.

Entre os livros publicados por Mário Dias estão “Malditos Repórteres de Polícia” (1992), com os principais casos policiais; “Rio da Violência Armado com Humor” (1995), produzido com vários cartunistas; “Das Rosas para as Rosas” (1994), um livro de poesias; e participou da premiada coletânea “50 anos de crimes” (2007), editada pela Record, com organização de Fernando Molica.

Em 2014 lançou “CTI – Antessala da morte: um passeio pela vida”. Com 186 páginas, divididas em 95 capítulos, o livro é uma narrativa do jornalista Mário Dias ao estilo de revista como série de reportagens, abordando a infância, adolescência, décadas de jornalismo e o convívio com personagens variados.

As reportagens investigativas, os grandes eventos, como o réveillon na praia, o “Rio Elétrico”, a Micareta do Rio; o Bloco das Piranhas, o Carnaval, as Escolas de Samba, a Festa dos Bois de Parintins; São João e as rodas de samba também estão neste livro-reportagem. Nele, ainda o autor revive os desfiles de Miss e moda, apresentação do cerimonial de Fidel Castro, grandes comícios e shows.

Amante do Carnaval, Mário Dias já passou por emissoras como TV Tupi, TV Continental, TV Rio, Rede Manchete, e TV Globo, onde foi o pioneiro das entrevistas com os sambistas nos intervalos dos desfiles. Apresentou por mais de 10 anos o programa e entrevistas e variedades “Casa da Gente”, exibido em três emissoras, sendo um dos integrantes do movimento do Pagode, nas rádios Fluminense, Carioca e Rio de Janeiro.

Mário Dias foi ainda assessor de imprensa da Prefeitura de Niterói nas gestões dos prefeitos Jorge Roberto Silveira, João Sampaio e Godofredo Pinto. Foi ideia dele, por exemplo, a realização do Réveillon na Praia de Icaraí, interrompido apenas pela pandemia. Hoje, por volta de 13h30, a caneta de Mário Dias silenciou-se para sempre.

O jornalista e colunista Luiz Antonio Mello afirmou que a triste notícia de sua morte, além do abalo, fica a constatação de que “perdemos um dos maiores repórteres do Estado do Rio, atual e antigo. Representante de uma geração de jornalistas que com um bloquinho desconjuntado a uma caneta bic levantava histórias”, disse.

Ele lembrou de histórias vivida pelos dois na década de 1970, em diversas redações e de come era fazer jornalismo antes da era digital. “O Mário era movido pela emoção e pelo faro de repórter e costuma dizer ‘ai tem coisa’ quando intuía uma notícia. Vendo o Mário trabalhar entendi o que é um repórter de verdade, ligado, antenado, aceso.

Daqueles que estava sentado num bar com amigos sexta à noite e de repente saia correndo para apurar alguma coisa”, completou recordando da época em que trabalharam juntos nos governos de Jorge Roberto Silveira e João Sampaio, na prefeitura de Niterói, quando Dias estava na Comunicação do Gabinete e Mello na Fundação de Arte.

Mario Sousa, presidente do sindicato dos jornalistas do Estado do Rio de Janeiro, afirmou que Mario Dias, era seu amigo e seu irmão. Os dois trabalharam juntos em vários veículos de imprensa, na Prefeitura de Niterói e na Neltur.

“Vivemos momentos profissionais e pessoais muito fortes. Muitas vezes era um pai para mim e vice e versa. Perdi um grande amigo e irmão, generoso, solidário, talentoso, com um ritmo impressionante de trabalho e uma capacidade de viver e alegria intensa. Faltou o abraço, a despedida, o choro, mas tenho certeza de que ele diria: ‘Não quero choro nem vela’… ‘Não deixe o samba morrer’. Além do filhos, dos amigos, ele deixa Charlotte, uma luz, sua neta, que nasceu há dias. Mário que tua alegria chegue no céu”, afirmou Sousa.

Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro lamentou a morte do jornalista Mário Dias, a quem classifica como uma “figura humana extraordinária, um dos mais conceituados repórter do país, editor e escritor, sambista e produtor”, que trabalhou em diversos veículos de imprensa e fundou o Jornal Casa da Gente.

“Um dos momentos mais marcantes de sua carreira, além das destacadas reportagens no jornal O Dia, foi quando pediu para assumir o comando de A Tribuna com a prisão do seu diretor Jourdan Amora pela Ditadura Militar. Mario também foi vítima do Golpe Militar. Além do seu dia a dia nas redações, Mário foi excelente assessor de imprensa e um grande incentivador do samba e do carnaval. Solidário e generoso, Mario Dias foi um grande defensor da classe jornalística como diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)”, diz a nota.

O texto termina afirmando que o Sindicato, assim como seus diretores e associados, manifestam pesar pela perda deste digno profissional e a toda sua família.

Fonte: A Tribuna de Niterói