Porque fecham as estradas da Serra da Estrela quando neva?
07/12/2025Autoridades justificam encerramentos com falta de condições de segurança e explicam como é feita a avaliação
INTERNACINAL/PORTUGAL
Foto: Divulgação
A dúvida não é nova e repete-se sempre que as estradas da Serra da Estrela encerram ao trânsito devido à neve: se em outros países neva muito mais, porque é que em Portugal as vias fecham tão depressa?
A resposta para o que voltou a acontecer esta semana combina motivos de segurança, características meteorológicas e limitações estruturais. Em declarações à CNN Portugal, tanto a Infraestruturas de Portugal (IP) como a Guarda Nacional Republicana (GNR) garantem que o encerramento resulta exclusivamente de razões de segurança. Já a meteorologista Patrícia Marques, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), sublinha que a formação de gelo é o principal motivo para cortar o trânsito.
O comandante da UEPS, major-general José Ricardo Gomes Rodrigues, explica, por email, que “a responsabilidade pelo corte de vias na área em apreço compete ao Posto de Busca e Resgate em Montanha da Serra da Estrela (PTBRM/SE) da Guarda Nacional Republicana, em coordenação com as Estradas de Portugal”.
“Os fatores que contribuem para a avaliação de um corte de via, englobam a acumulação de neve e a formação de gelo, os quais podem colocar em causa a segurança de pessoas e veículos. Nessas circunstâncias, procede-se ao encerramento temporário das vias até que estejam reunidas condições de segurança adequadas, o que depende também da capacidade de atuação dos limpa-neves, sendo que este período de encerramento pode variar consoante as condições meteorológicas e a evolução do estado das vias”, acrescenta.
Já a IP confirma que “a decisão do encerramento das estradas não é da competência da IP”, cabendo às forças policiais “a efetivação dos cortes”, com base nas indicações técnicas fornecidas pela empresa pública.
“A IP fornece, junto das entidades competentes, as indicações técnicas que aconselham a interrupção das vias competindo às forças policiais a sua efetivação. As razões prendem-se exclusivamente com a não existência de condições de segurança para circulação a determinadas cotas”, refere a empresa.
Para a meteorologista Patrícia Marques, estas interrupções ocorrem “muitas vezes mais por precaução do que por intensidade da neve”, sendo a formação de gelo o maior perigo.
“O gelo na estrada é a situação mais perigosa. Durante a noite e o início da manhã, há zonas da serra em que a estrada fica gelada, e com apenas um centímetro de neve já se pode encerrar por precaução”, explica.
Além das condições meteorológicas, há fatores de relevo e de segurança rodoviária que justificam decisões preventivas. “As estradas não estão nas melhores condições, são estreitas e com curvas. E como há muito nevoeiro e a sinalização nem sempre é a melhor, é fácil alguém perder-se. Como há pouca neve, quando cai um bocadinho, vai toda a gente para a serra, o que aumenta o risco”, acrescenta.
Patrícia Marques reforça que os encerramentos noturnos são, muitas vezes, “por precaução e não tanto por razões meteorológicas”.
Já a IP recorda que, pela proximidade da Serra da Estrela ao Atlântico, a região apresenta características únicas, como a chamada “neve atlântica”, “com maiores índices de humidade, densidade e peso”, o que “dificulta a sua remoção em comparação com outras regiões montanhosas”.
“Perante estas características do maciço central, nem sempre é possível assegurar as devidas condições para atuação dos limpa-neves. Durante a noite e madrugada as condições atmosféricas agravam-se e é a meteorologia, associada à eficiência da limpeza, que dita o restabelecimento da normalidade”, sublinha a IP.
Quem limpa a estrada e quem decide que reabre?
Segundo a IP, cabe ao Centro de Limpeza de Neve (CLN), localizado em Piornos, assegurar as condições de circulação e segurança numa rede rodoviária de cerca de 290 quilómetros nos distritos da Guarda e Castelo Branco, dos quais 128 quilómetros se situam no maciço central da Serra da Estrela.
“O CLN é composto por uma equipa de 12 colaboradores e um coordenador operacional. Dispõe de oito limpa-neves, duas rotativas, uma giratória, uma retroescavadora, quatro viaturas de apoio e consome, em média, mil toneladas de sal-gema por ano”, explica a empresa.
As condições de reabertura são comunicadas apenas “quando estiverem reunidas as condições de segurança de circulação”.
De acordo com a GNR “a reabertura dos troços é igualmente da responsabilidade do PTBRM/SE, em coordenação com as Estradas de Portugal, sendo decidida apenas após verificação das condições de segurança”.
A força de segurança sublinha ainda que existem pontos fixos com barreiras físicas que impedem a passagem para zonas interditas e alerta os condutores para não ignorarem os cortes, uma vez que tal constitui uma infração sujeita a procedimento.
“Destacamos o facto de que os condutores não devem ignorar os cortes de estrada e, caso o façam, incorrem numa infração, sendo essa situação sujeita a procedimento pelas autoridades competentes. No âmbito da sua atividade operacional, na área, a GNR registou alguns incidentes e acidentes, os quais são mitigados pelos cortes preventivos e pela presença das patrulhas do PTBRM/SE no terreno”, acrescenta a força de segurança.
Fonte,: CNN PORTUGAL





