Mais de 50 países apoiam fundo de florestas, mas só quatro anunciam investimentos em Belém

Mais de 50 países apoiam fundo de florestas, mas só quatro anunciam investimentos em Belém

06/11/2025 0 Por Livia Rosa Santana

Declaração apresentada pelo Brasil consegue apoio político de países como Alemanha e Reino Unido; Noruega dará US$ 2,9 bilhões, mas apoio financeiro ainda é baixo

Belém/Brasil

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O Brasil obteve amplo apoio político à criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), mas ainda busca a adesão de mais países para atingir a meta de US$ 10 bilhões em investimentos.

A iniciativa é a principal aposta do presidente Lula como anfitrião da COP30, que começa oficialmente na segunda-feira.

No primeiro dia da Cúpula do Clima, que reúne chefes de Estado e de governo, quatro países se comprometeram nesta quinta a fazer aportes financeiros, num valor total de US$ 5 bilhões.

Os principais anúncios foram da Noruega, que dará US$ 2,9 bilhões, e da França, que prometeu desembolsar 500 milhões de euros.

Holanda e Portugal se comprometeram com recursos para ajudar a bancar os “custos operacionais” do TFFF. A ajuda dos países europeus será de 5 milhões e 1 milhão de euros, respectivamente.

Até o início da conferência, apenas Brasil e Indonésia haviam anunciado contribuições de US$ 1 bilhão cada. A Alemanha indicou que deve anunciar seu aporte nesta sexta-feira.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse estar “muito animado” com as primeiras contribuições ao fundo, que representam 50% da meta de arrecadação até o fim de 2026.

Em entrevista após o lançamento oficial do TFFF, ele afirmou que o presidente Lula vai “entrar em campo” e ligar para líderes que não vieram a Belém em busca de novas contribuições.

— Estamos muito confiantes de que vamos integralizar este valor [de US$ 10 bilhões em um ano]. Estou muito animado. Já estava animado antes, estou mais animado hoje — afirmou.

Haddad relativizou o fato de 54 países terem assinado uma declaração de apoio ao TFFF, mas apenas quatro terem se comprometido com a liberação de recursos nesta quinta-feira.

— Você não pode exigir que um país que acabou de tomar conhecimento do mecanismo anuncie já [o investimento] — disse.

Principal doadora do Fundo Amazônia, a Noruega também largou na frente entre os participantes do TFFF. O primeiro-ministro Jonas Gahr Støre disse que “não há tempo a perder”

— É vital deter o desmatamento para reduzir os impactos das mudanças climáticas e limitar a perda de biodiversidade. Não há tempo a perder se quisermos salvar as florestas tropicais do mundo — afirmou.

Apresntada pelo Brasil, a declaração de lançamento do fundo ganhou a adesão de outros 53 países, o que indica amplo apoio político.

Segundo o embaixador Mauricio Lyrio, entre “potenciais investidores” do fundo estão China, Alemanha, Japão, Reino Unido e União Europeia.

Alguns signatários do documento, como o Reino Unido, deixaram claro que não farão contribuições econômicas neste momento.

O aporte do Brasil ao TFFF é condicionado ao apoio de outros países ao fundo, que pretende arrecadar US$ 25 bilhões de nações soberanas.

A iniciativa ainda será aberta a investidores privados. A expectativa da Fazenda é arrecadar quatro dólares em capital privado para cada dólar investido por governos nacionais.

Os idealizadores do TFFF planejam distribuir US$ 4 bilhões por ano entre países que conservem suas florestas tropicais. Um quinto dos recursos deverá ser destinado a povos indígenas e comunidades tradicionais.

O objetivo do fundo é beneficiar 73 países em desenvolvimento que abrigam cerca de 1 bilhão de hectares de florestas tropicais e subtropicais úmidas. Mas as regras preveem que só serão contemplados países que desmatarem abaixo da média mundial. O Banco Mundial (Bird) será o operado dos recursos.

A declaração de lançamento do TFFF afirma que os países que aderiram ao documento estão “movidos pela urgência de proteger as florestas tropicais, indispensáveis para a manutenção da vida no planeta”.

O texto sustenta que “as florestas tropicais são essenciais para a regulação do clima, a proteção dos solos, a salvaguarda dos sistemas de água doce e a conservação da maior parte da biodiversidade do planeta”. Num dos pontos fortes do documento, os países defendem que é preciso assegurar que “as florestas tropicais valham mais em pé do que destruídas”.

Maior investidor

O fundo terá investidores, e não doadores. Os aportes da Noruega serão desembolsados ​​gradualmente até 2035 e deverão ser devolvidos até 2075.

O país nórdico estipulou uma série de condições para liberar o dinheiro. Ao menos US$ 9,79 bilhões precisarão ser garantidos por outros doadores até 2026, e a Noruega não deverá contribuir com mais de 20% do montante total.

— Proteger as florestas tropicais é um investimento em nosso futuro comum. Este fundo ajudará a proteger ecossistemas vulneráveis, essenciais para mitigar a crise climática e ambiental global. Esperamos que mais países também contribuam com financiamento — disse o Ministro do Clima e Meio Ambiente do país, Andreas Bjelland Eriksen.

Uma frustração no evento foi o anúncio de que o governo britânico não deve fazer nenhum aporte no TFFF. O Reino Unido foi um dos 12 países que ajudaram a desenhar o fundo. Portugal foi uma surpresa positiva, porque não estava no grupo fundador e ainda não havia sido procurado para contribuir.