Lula chama de ‘matança’ operação no Rio que deixou 121 mortes e pede investigação

Lula chama de ‘matança’ operação no Rio que deixou 121 mortes e pede investigação

04/11/2025 0 Por Francisco Avelino

Em primeira fala pública sobre o tema, presidente disse que ação policial foi ‘desastrosa’

Brasília/Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, em entrevista a correspondentes internacionais, que a megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro na semana passada foi uma “matança” e pediu uma investigação sobre o assunto. Chamada de Contenção, a operação foi realizada pelas polícias militar e civil do Rio e deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha.

— Houve uma matança e creio que é importante investigar em que condições ocorreu — disse Lula, de acordo com a agência AFP. É a primeira fala pública do presidente sobre a operação policial realizada pelo governo do adversário Cláudio Castro (PL).

De acordo com Lula, “até agora só temos a versão do governo estadual, e tem gente que quer saber como tudo aconteceu”.

— O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, as pessoas podem considerar um sucesso, mas do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa — afirmou Lula em entrevistas a agências internacionais em Belém, cidade que vai sediar a COP30 nas próximas semanas.

Lula disse que o governo federal já está “tentando (fazer) essa investigação”.

— Estamos tentando, inclusive, ver se é possível os legistas da Polícia Federal participarem do processo de investigação da morte. A decisão do juiz era uma ordem de prisão. Não tinha ordem de matança e houve uma matança. É importante a gente verificar em que condições ela se deu — ressaltou o presidente.

No dia da operação, Castro chegou a criticar a suposta falta de colaboração do governo federal com as forças de segurança estaduais, por ter tido seus pedidos de blindados negados três vezes. O próprio Castro, no entanto, admitiu que não tem a intenção de pedir ao governo federal a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), requisito para a cessão dos blindados.

Mudança de tom

Nos dias seguintes à operação, Lula evitou fazer um contraponto à ação da polícia do Rio e adotou o silêncio em eventos públicos, como a posse de Guilherme Boulos na Secretaria-Geral da Presidência.

A estratégia adotada por pessoas próximas ao presidente era usar a parceria acertada com o governador Cláudio Castro para dar fôlego à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança, principal iniciativa da União na área.

De acordo com a colunista Vera Magalhães, do GLOBO, pesquisas a que o governo federal teve acesso indicam que o apoio à operação policial é majoritário na população.

A primeira manifestação de Lula após o episódio ocorreu nas redes sociais. O petista reiterou a necessidade de combater as facções. Não houve críticas a Castro ou menção a eventuais mortes de inocentes.

“Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, escreveu Lula na semana passada.

Escritório conjunto

Ainda na semana passada, Castro e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciaram a criação de Escritório de Combate ao Crime Organizado para “eliminar barreiras” entre os governos estadual e federal.

O grupo será comandado pelo secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Cesar Santos, e pelo secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo. O anúncio foi feito após uma reunião entre os entes federativos. Além disso, o Estado poderá recrutar peritos criminais da União e aumentar o efetivo da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal no Rio. Há o entendimento também de aumentar as ações de inteligência da Polícia Federal para sufocar o braço financeiro das quadrilhas.