Ator e comediante Lúcio Mauro morre aos 92 anos
13 de maio de 2019O ator e comediante Lúcio Mauro morreu na madrugada deste domingo, aos 92 anos. Ele estava internado há dois meses na Clínica São Vicente, em Botafogo, devido a problemas respiratórios. O corpo do ator será velado nesta segunda-feira, no Teatro Municipal, das 9h às 14h.
Seu filho, o também ator Lucio Mauro Filho o homenageou num texto publicado no Facebook: “Papai foi um pioneiro, saiu do teatro de estudante lá no Pará, foi pro Recife, fez rádio, inaugurou a televisão no Nordeste e de lá, veio para o Rio de Janeiro pra se tornar um dos maiores artistas deste país”.
As palavras de Lúcio Mauro Filho são precisas. Nascido em Belém do Pará, em 1927, Lúcio Mauro contava que desde criança tinha o sonho de entrar no Teatro da Paz, a monumental sala de sua cidade natal. Aos 11 anos, conseguiu pela primeira vez, aproveitando a distração dos porteiros.
— Encantava-me com as peças, o palco, as luzes, os artistas — disse o artista ao GLOBO em 2008. — Mas, à época, ter artista na família era uma vergonha. Meu pai não gostava da idéia, mas minha mãe disse : “Lúcio Mauro não tem só pai, tem mãe também. Temos que escutá-lo. É isso que você quer ser?” Eu tinha 17 anos, disse : “É.” Ela falou ao Mário : “Espere um instantinho.” Pegou uma maleta de couro, botou duas calças, quatro camisas, quatro cuecas, duas meias e me disse : “Vá.”
Lúcio Mauro começou a carreira no teatro estudantil. Com pouco mais de 20 anos, entrou para a companhia de teatro de Mário Salaberry — e ao lado do mestre sofreu um acidente que marcou sua vida e sua carreira. Os dois iam de carro de Belém para o Rio quando, próximo a Petrolina, o carro capotou:
— Ele morreu na hora, nos meus braços. Meu rosto ficou uma posta de sangue. Os vidros entraram e cortaram tudo. Fui costurado com agulha que se costura saco, sem anestesia. Não tinha cirurgião plástico naquela época. Vi que fiquei completamente deformado, mas depois me acostumei, e o público também — contou o ator em entrevista ao GLOBO, referindo-se às cicatrizes de seu rosto que se tornaram uma característica sua. — As marcas começaram a fazer parte da minha personalidade, deram mais força a meu rosto. Ele é expressivo mesmo com os defeitos. Senti que minhas dificuldades para conseguir meu intento de ser ator, de ser galã, tinham aumentado com o acidente, mas Deus foi generoso, e seis meses depois já estava trabalhando. E eu também pensava: “Em cara de comediante não se deve mexer”.
Passado o trauma, o ator se juntou à companhia de Barreto Júnior, na mesma época em que se casou com a atriz Arlete Salles. Sua estreia como humorista na televisão se deu em 1960, com a inauguração da TV Rádio Clube de Pernambuco, na qual participou do programa “Beco sem saída”. Em 1963, ele se mudou para o Rio, onde trabalhou na TV Rio e na TV Tupi, em episódios do GRande Teatro Tupi. Em 1966, fez sua estreia na Globo, no humorístico “TV0-TV1”. Dois anos depois, criou e dirigiu o “Balança mas não cai”, que marcou época na TV brasileira. Foi lá que apareceu pela primeira vez o personagem Fernandinho, marido da amorosa e pouquíssimo inteligente Ofélia (vivida então por Sonia Mamede e décadas depois reeditada no “Zorra total” por Claudia Rodrigues).
Estreia na TV Globo
Em 1966, Lúcio Mauro estreou na Globo, no humorístico “TV0–TV1”, ao lado de Jô Soares, Agildo Ribeiro, Paulo Silvino e outros, sob direção de Augusto César Vannucci.
Dois anos depois, criou e dirigiu na Globo o humorístico “Balança Mas Não Cai” (1968), escrito por Max Nunes e Haroldo Barbosa, e transmitido, ao vivo, até 1971.
O programa tinha o quadro Ofélia e Fernandinho, estrelado por Lúcio e Sônia Mamede (1936-1990).
Já no programa de variedades “Alô Brasil, Aquele Abraço” (1969), o comediante protagonizou um dos momentos mais inusitados de sua vida: um dos apresentadores das atrações regionais, como representante da região Norte, ficou em último lugar em uma das competições e recebeu como castigo lavar a cabeça da estátua do Cristo Redentor.
Outros papéis
Trabalhou no musical “Viva a Revista!” (1969) e foi ator e diretor do programa de humor “Uau, a Companhia” (1972). Quando “Balança Mas Não Cai” foi para a TV Tupi, nos anos 1970, ele acompanhou os colegas do programa e deixou a Globo por um tempo.
Voltou para integrar o elenco de “Chico City” no final da década. Ficou marcado como o diretor do ator canastrão Alberto Roberto, interpretado por Chico Anysio. Em seguida, voltou a dirigir e atuar na nova versão de “Balança Mas Não Cai” (1982) na Globo, sendo também diretor de “A Festa é Nossa”, semanal que tinha como cenário fixo a cobertura de Ofélia e Fernandinho.
Ainda na década de 1980, Lúcio Mauro participou de “Chico Anysio Show” (1982) e “Os Trapalhões” (1989), revivendo com Nádia Maria a dupla Fernandinho e Ofélia. Em 1983, interpretou o médium Chico Xavier no “Caso Verdade Chico Xavier, um Infinito Amor”. Em 1988, fez uma participação na minissérie “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes, como Dr. Quindim.
Na década de 1990, viveu Aldemar Vigário, da “Escolinha do Professor Raimundo”, sempre bajulando o professor interpretado por Chico Anysio. Trabalhou em um episódio de “Você Decide” (1992), foi do elenco de “Malhação” (1995), atuando como Dr. Palhares, pai do Mocotó (André Marques), e atuou na novela infantil “Caça-Talentos” (1996), com Angélica.
Em seguida, integrou o elenco de “Chico Total” (1996). Em 1998, encarnou o bicheiro mafioso Neca do Abaeté na minissérie “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, escrita por Dias Gomes com base no romance de Jorge Amado. Viveu o advogado Nonato na segunda versão da novela “Pecado Capital”, de Glória Perez com base no original de Janete Clair; atuou em um episódio de “Sai de Baixo”; e participou em “Meu Bem Querer”, de Ricardo Linhares.
A partir de 1999, Lúcio Mauro retomou personagens em “Zorra Total”. Refez o quadro Fernandinho e Ofélia, desta vez com Claudia Rodrigues. Também integrava o elenco do programa seu filho, o ator Lúcio Mauro Filho. Em março de 2001, o humorista voltou à nova temporada da “Escolinha do Professor Raimundo”, vivendo o popular Aldemar Vigário.
Nesta década, participou de “Os Normais”, “A Grande Família”, “A Diarista”, “Sob Nova Direção”, “Programa Novo”, “Faça a Sua História” e “Zorra Total”. Neste último, em 2012, viveu o personagem Ataliba, um vovô surfista, amigo de Gumercindo (José Santa Cruz), um senhor skatista. Os dois tentavam conquistar moças no vagão do Metrô Zorra Total. A dupla reviveu a parceria da estreia de Lúcio Mauro em humor na TV, em 1960.
Em 2007, participou de “Paraíso Tropical”, de Gilberto Braga, como Veloso. Em 2008, esteve na série “Casos e Acasos” e na novela “A Favorita”, de João Emanuel de Carneiro, no papel de Sabiá. No remake de “Gabriela” (2012), viveu Eustáquio. No penúltimo episódio de “A Grande Família” (2014), Lúcio Mauro interpretou Rui, um amigo de Agostinho Carrara (Pedro Cardoso).
Sua filmografia tem “Terra sem Deus” (1963), de José Carlos Burle; “007 ½ no carnaval” (1966), de Victor Lima; “Redentor” (2004), de Claudio Torres; “Cleópatra” (2008), de Júlio Bressane; e “Muita Calma Nessa Hora” (2010), de Felipe Joffily.
Em 2008, o humorista estreou a peça “Lúcio 80-30”, dividindo o palco com Lúcio Mauro Filho, autor e diretor do espetáculo, e com outros dois filhos, Alexandre Barbalho e Luly Barbalho.
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