Após trinta anos de espera, na próxima sexta-feira (15) será inaugurado o Contorno do Mestre Álvaro. Mais de R$ 500 milhões foram investidos em 19,7 km de vias duplicadas. Com isso, o Contorno do Mestre Álvaro passará a integrar a BR 101, enquanto a atual rodovia se transformará na Avenida Mestre Álvaro, sob a gestão da Prefeitura da Serra. Os benefícios e impactos dessa obra ainda são incalculáveis, mas as expectativas são positivas.
De acordo com o prefeito da Serra, Sergio Vidigal, espera-se que de 30 a 40% do tráfego atual da rodovia seja redirecionado para o Contorno. Além da redução do volume de veículos automotores que deixarão de transitar dentro da malha urbana da Serra, o benefício será potencializado pelo tipo de veículo, uma vez que grande parte será de caminhões de carga. O Contorno foi projetado especificamente para desviar e encurtar o trânsito de caminhões pesados, com pistas largas de 3,5 metros cada e uma engenhosa estrutura, incluindo 2,3 quilômetros de pistas elevadas construídas sobre áreas de solo alagadiço, para as quais foram utilizadas 5 mil estacas.
Na prática, esse é o principal investimento em infraestrutura rodoviária na história da Serra desde a construção da própria BR-101 entre os anos 1970 e 1980 (e sua posterior duplicação). Segundo Vidigal, após a inauguração, haverá um período de transição para a gestão da rodovia, de modo que o atual trecho da BR-101 seja definitivamente repassado à Prefeitura. As negociações já foram finalizadas com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (DNIT), mas ainda requerem a anuência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o órgão regulador.
“Nossa expectativa é que, poucos dias após a entrega do Contorno do Mestre Álvaro, o atual trecho da BR-101 já seja transferido ao município para ser transformado na Avenida Mestre Álvaro. Haverá um tempo de transição, mas deve ocorrer rapidamente, pois é do interesse de ambas as partes, do Governo Federal e da Prefeitura da Serra”, explicou Vidigal.
O prefeito informou também que, já na próxima semana, a Prefeitura começará o serviço de paisagismo em todo o trecho da rodovia. O município também planeja licitar ainda este ano uma nova iluminação urbana para o trecho que vai do bairro Belvedere (logo após Serra Sede) ao viaduto da Estrada de Ferro da Vale, em Carapina. Com a municipalização do atual trecho da BR-101, serão adicionados cerca de 30 km de pista de rolagem em área urbana sob a gestão da Prefeitura da Serra. Para isso, o prefeito prometeu lançar um edital de contratação para preencher 32 vagas no Departamento Operacional de Trânsito da Serra (DOT), que atualmente estão vagas. Outra preocupação era que o serviço de guincho deixasse de funcionar no trecho da atual BR-101, já que a cobertura da Eco-101 será transferida para o Contorno do Mestre Álvaro, sobre isso, Vidigal afirmou que está negociando com o Detran-ES a manutenção de um sistema similar ao atual, que dê assistência a veículos que necessitem de auxílio.
Vidigal também informou que pretende retomar as negociações com o Governo do Estado para implantar um corredor exclusivo de ônibus. Esse projeto, apresentado por ele em 2012, não avançou na época por falta das condições necessárias. Agora, com a retirada de parte expressiva do tráfego de caminhões pesados, Vidigal acredita que há uma oportunidade para estabelecer uma faixa dedicada ao transporte coletivo na BR-101, futura Avenida Mestre Álvaro, o que agilizaria a vida de milhares de pessoas que utilizam o sistema. A medida depende de uma ação conjunta com o Governo do Estado, já que o transporte coletivo é coordenado em nível estadual. O prefeito da Serra acredita que essa seria uma solução relativamente barata, ágil e de rápido impacto. Além disso, Vidigal adiantou o interesse do município na construção de uma ciclovia ligando Serra Sede à parte sul de Carapina. Na verdade, o prefeito revelou que essa ideia já está em fase de projeto.
O Contorno do Mestre Álvaro substituirá o trecho que compreende a entrada da PBA Stones na região norte da Serra (km 249, após o posto da Polícia Rodoviária Federal) até o km 279, logo após a entrada do condomínio Alphaville. Assim, a BR-101, que atualmente corta a faixa leste do Mestre Álvaro, será redirecionada para a parte oeste do monte. Além do benefício mais evidente, que é a diminuição do trânsito na malha urbana da Serra, muitas outras mudanças são esperadas. Com a gestão municipal, a futura Avenida Mestre Álvaro deve reduzir burocracias. Por exemplo, se um proprietário ou locador de algum imóvel às margens da BR-101 precisar modificar seu muro, ele precisará da anuência da Eco-101 e, em alguns casos, de licenças federais, processos que são engessados, demorados e de difícil resolução.
Espera-se que todos os imóveis margeando a atual BR-101 se valorizem e que novos negócios sejam fomentados, com a aceleração na aprovação de projetos e licenciamentos simplificados. O Plano Diretor Municipal (PDM), recentemente aprovado, já inclui mudanças antecipando a municipalização da rodovia, como o fim do limite de tamanho de prédios, um fator que historicamente limitou o desenvolvimento da região de Carapina. Vidigal defende que a municipalização da BR-101 será uma “virada de chave para termos uma porta de entrada com a cara da cidade”. Isso porque, segundo o prefeito, a atual BR-101, do jeito que está, funciona como um muro de segregação do espaço urbano da Serra, dividindo-o entre os lados esquerdo e direito.
Na prática, esta é uma oportunidade para a Serra repensar o uso e a ocupação de um de seus territórios mais nobres, sem as amarras federais que por anos foram um entrave para a execução de planos e projetos. Mas vai além disso: a nova rodovia também deve ressignificar a parte oeste da Serra, que, desde o desmonte econômico e despovoamento do antigo distrito de São José do Queimado, viu o vetor de desenvolvimento se inverter para o leste da Serra, deixando aquela porção territorial em esquecimento. Vale lembrar que, apesar de a Serra ter 520 mil moradores, 99% deles ocupam a zona urbana, que representa apenas 40% da área total da cidade; os outros 60%, que compõem a metade oeste da Serra, são zonas rurais quase desconhecidas pela maioria dos moradores.
Esses 60% do território da Serra que agora estarão mais acessíveis e mais valorizados com o Contorno do Mestre Álvaro trazem benefícios incalculáveis. Isso inclui a criação de novos polos de desenvolvimento, empregos e renda, bem como o fortalecimento do turismo e da agricultura, um segmento econômico da Serra pouco explorado. No entanto, é muito importante citar que esse novo dinamismo traz desafios e responsabilidades sob a perspectiva ambiental, considerando que essas áreas possuem exuberante biodiversidade, fartura de água doce e corredores verdes. Muitas dessas áreas são brejosas, especialmente as mais próximas da base do Mestre Álvaro. A preservação desse arranjo ambiental é importante, especialmente para a contenção de enchentes nas comunidades vizinhas, já que funcionam como verdadeiras esponjas naturais. Sob esse olhar ainda há dúvidas de como será encaminhado o rumo do desenvolvimento, até porque há forte pressão imobiliária de famílias da elite de Vitória, que possuem grande áreas na região.