Cerca de 50 homicídios na conta

4 de julho de 2019 0 Por Francisco Avelino

Polícia prende 17 pessoas acusadas de integrar milícia acusada de mais de 50 homicídios em Itaboraí

Uma advogada foi presa em Icaraí / Foto: Marcelo Feitosa

Pelo menos 17 pessoas foram presas acusadas de envolvimento com a milícia que atua em Itaboraí durante uma megaoperação realizada pela Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público, na manhã desta quinta-feira (4). Até o ínicio da tarde, pelo menos 42 mandados de prisão, dos 74 expedidos, haviam sido cumpridos, já que 25 dos criminosos já cumprem pena. Outros 93 mandados de busca e apreensão foram expedidos. O grupo, que tinha o lucro mensal de R$ 500 mil, era comandado pelo ex-PM e miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica. Polícia investiga desaparecimento de cerca de 50 pessoas.

Denominada Operação Salvator, a ação foi comandada pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), que investigou a ação dos acusados por cerca de um ano. A investigação revelou que a organização criminosa é responsável por inúmeros casos de homicídios, torturas, extorsões, desaparecimento de pessoas e cemitérios clandestinos. Entre os presos estão os autores da chacina que deixou dez mortos em janeiro na cidade. As prisões aconteceram em pontos do Rio, Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Rio Bonito.

Cinco policiais militares foram acusados na investigação. Três já haviam sido presos anteriormente. Um dos acusados, preso durante a ação de quinta-feira em um condomínio residencial de Rio Bonito, era um sargento da PM lotado na UPP de Manguinhos, identificado como ‘China’. Ele é apontado como um dos principais nomes da organização criminosa, junto com Renato Nascimento Santos, o ‘Renatinho Problema’, preso em dezembro de 2018.


Esposa de um dos acusados foi detida na operação Foto: Marcelo Feitosa

De acordo com a polícia, ‘Problema’, braço direito de ‘Curicica’, foi enviado à Itaboraí para dar andamento a chegada da milícia na região, funcionando como uma ‘franquia’ da organização da capital. De acordo com o MP, o grupo de ‘Curicica’ fornecia armamento e ‘soldados’ para a milícia local, que retribuía com repasse de percentual dos valores arrecadados. China e Renatinho teriam se desentendido, no fim do ano passado, por disputa territorial, gerando uma divisão dentro da organização criminosa.

Segundo a polícia, a investigação começou após o número de homicídios disparar no município a partir do início de janeiro de 2018. Após chamar a atenção da polícia, que realizou algumas prisões no período, o bando mudou sua forma de atuação, passando a ocultar os corpos. Uma das vítimas chegou a ser decapitada e ter o coração arrancado do corpo. De acordo com o delegado Gabriel Poaiava, a estimativa é de que cerca de 50 corpos estejam ocultados em cemitérios clandestinos desde janeiro de 2018. Parentes dos desaparecidos eram coagidos a não registrar os casos.

“Com a prisão desses criminosos, acreditamos que estamos ajudando a população de Itaboraí a ter um pouco mais de tranquilidade. Vamos trabalhar para identificar os cemitérios clandestinos e o restante da organização, com o objetivo de prender todos”, disse Poiava.

A polícia acredita que o bando tenha escolhido Itaboraí por conta do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da possibilidade de extorquir os moradores e trabalhadores com a retomada de obras. A organização atuava em Visconde de Itaboraí, Areal e Porto das Caixas – antes controladas pela facção ‘Comando Vermelho’ -, mas a cobrança de ‘taxas de segurança’, ‘gatonet’ e limpeza de rua já havia chegado próximo ao Centro.

A milícia, que também expulsava moradores de casa e revendia as residências, atuava com gerentes financeiros, de cobrança, ronda, segurança e os chefes, além de cobradores e ‘matadores’. Pelo menos 10 mulheres foram identificadas e tiveram prisão expedida por participação na organização. Algumas com cargo de chefia.

Durante a ação em Itaboraí, um ex-PM percebeu a presença dos policiais e fugiu ao pular do 4° andar de seu prédio, mesmo se ferindo na queda. Sua namorada foi presa em flagrante após policiais encontrarem armas na casa. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido contra um advogado. Ele foi flagrado fotografando placas de carros da DHNISG, com suspeita de encaminhar as fotos para a milícia.

Em Niterói, um casal foi preso em um condomínio na orla de Icaraí, na Zona Sul. O homem é acusado de se passar por policial civil de delegacias da região, a última delas, a DP de Itaboraí. Ele, inclusive, andava com viatura oficial da Polícia Civil, cujo caso ainda será investigado. Ele ainda possuia um depósito de gás na região sem repassar os valores para a milícia. A esposa dele usava sua profissão de advogada para explorar vítimas da milícia e contactar traficantes da região.

Carolina Ribeiro / O Fluminense