Prejuízo de R$ 107 milhões

Prejuízo de R$ 107 milhões

30 de junho de 2019 0 Por Francisco Avelino

São Gonçalo, Caxias e Itaboraí lideram furto de energia nos últimos 12 meses na área de concessão da Enel

São Gonçalo, Duque de Caxias e Itaboraí lideram o ranking dos municípios com os maiores índices de furto de energia entre os atendidos pela Enel Distribuição Rio no Estado. Nos últimos 12 meses, a concessionária registrou perdas de R$ 107 milhões, um valor que, repassado aos clientes, aumenta a tarifa em 5%. Já a concessionária Light deixa de faturar R$ 1,8 bilhão por ano por conta do furto de energia. Neste caso, para os clientes honestos, a conta de luz poderia ser 17% mais barata. As empresas apontam que as fraudes estão relacionadas ao crescimento das áreas de risco.

Juntas, São Gonçalo, Duque de Caxias e Itaboraí respondem por 42% de toda energia perdida na área de atuação da Enel Rio. São Gonçalo desponta com índice de 37%, seguido de Duque de Caxias (31%), Itaboraí (30%), Magé (26%), Araruama (24%) e Campos dos Goytacazes (24%). Cabo Frio (23%), Niterói (21%), Maricá (20%) e Angra dos Reis (16%) completam o ranking das 10 cidades que mais furtam energia. PUBLICIDADE 

Em Niterói, as áreas de maior incidência de furto são os bairros Baldeador, Sapê, Engenho do Mato, Várzea das Moças e Piratininga. Em São Gonçalo, as principais localidades são Rio do Ouro, Arsenal, Santa Isabel, Colubandê e Gradim.

O furto de energia, além de ser crime – com pena prevista de um a oito anos de reclusão –, afeta a qualidade do serviço prestado pela distribuidora, já que as ligações irregulares podem causar curtos-circuitos e sobrecarga na rede elétrica, e impacta o valor da tarifa de energia. Na conta, a agência reguladora (Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel) considera as perdas de cada distribuidora para calcular a tarifa de cada empresa. 

Dividindo o prejuízo – Nos últimos 12 meses, a Enel Distribuição Rio registrou perdas de R$ 107 milhões, que não são cobertas na tarifa de energia. Dessa forma, os custos de distribuição de energia são divididos entre todos os clientes, assim, todos pagam pelo furto. 

“A questão do furto de energia é cultural, e não socioeconômica. Por isso, atuamos no combate ao furto com base em três pilares: operações com a polícia, implementação de medidas técnicas e projetos sociais. Buscamos incentivar o uso correto da energia para que o cliente entenda que é possível consumir de forma eficiente e ter, no final do mês, uma conta que caiba no seu bolso”, disse Ricardo Martins, responsável de Operações Comerciais da concessionária. O representante completou ainda que apenas pessoas autorizadas e que estejam utilizando os equipamentos de segurança necessários podem manusear a rede de energia.

Em 2018, foram realizadas 207 mil inspeções, com 91 mil irregularidades identificadas. Ainda foram realizados 729 registros de ocorrência no ano passado, 59% a mais do que em 2017. Em Niterói, foram contabilizados 40 registros de ocorrência em 2018 e 12.784 inspeções contra esse tipo de irregularidade. Os números de 2019 não foram divulgados.
Os clientes que quiserem denunciar o furto de energia podem fazê-lo pela internet: https://www.enel.com.br/ ou pelo aplicativo Enel Rio. Não é necessário se identificar. 

Mais áreas de risco

Segundo a concessionária, o furto de energia está relacionado também ao crescimento do número de clientes em áreas de risco, locais em que as equipes não conseguem atuar plenamente. A estimativa é que essas áreas tenham crescido quase 520% entre 2008 e 2019, passando de 75 mil para cerca de 390 mil. São Gonçalo, no levantamento da empresa, foi a cidade que mais registrou este crescimento.

Em Niterói, as principais regiões classificadas como área de risco são Morro do Preventório, Garganta, Cotia, entre outras. Na cidade, a Enel tem 43 mil clientes localizados em áreas de risco.

A Enel informou que mantém comitês em algumas localidades das cidades em que atua, avaliando a possibilidade de atuação das equipes em atividades de campo, como atendimento de emergência, melhorias na rede elétrica e inspeção de medidores. Além disso, também há avaliação sobre a possibilidade de retornar às atividades nessas áreas em que a companhia enfrenta dificuldades para medir o consumo dos clientes e coibir a prática de furto de energia. 

Light alega perdas de 1,8 bilhão

Presente em 31 municípios do Rio de Janeiro, a light chegou a ter, em março, 24,49% de sua energia furtada do total que distribui aos seus 3,9 milhões de clientes. Sem informar dados antigos, a concessionária diz que houve um aumento na fraude por conta do crescimento da violência e do domínio da milícia e do tráfico em áreas do Rio de Janeiro, o que impede o combate ao furto de energia. Na prática, a empresa deixa de faturar R$ 1,8 bilhão por ano, aumentando em 17% a tarifa de todos os clientes.

Segundo a concessionária, 70% das interrupções de energia na área de concessão acontecem nas regiões com maior índice de “gatos”. Levantamento aponta que na Zona Oeste do Rio de Janeiro (Jacarepaguá, Bangu, Campo Grande e Santa Cruz) e na Baixada Fluminense (Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo e São João de Meriti), os furtos atingem a marca de 40,6% e 38,9%, respectivamente. Da área de concessão, 800 mil clientes estão em áreas de risco, 20% do total de clientes.

No Rio de Janeiro, a região da Penha, Méier, Cascadura e Ilha do Governador tem cerca de 35,7% de energia furtada, enquanto na Zona Sul, Centro, Tijuca, Barra da Tijuca e Recreio concentram 11% de fraude. Barra do Piraí, Três Rios e Volta Redonda têm apenas 2,5%.

Mais de 5 mil gigawatts-hora de energia fornecida pela concessionária não são pagos à distribuidora. Um volume que corresponde ao consumo residencial de todo o estado do Espírito Santo. Além do prejuízo da concessionária (R$ 1,8 bilhão por ano), o Estado deixa de recolher R$ 630 milhões/ano referentes ao ICMS sobre essa energia.

No primeiro trimestre deste ano, a empresa realizou mais de 80 mil inspeções para coibir as ligações ilegais. Dessas, 29,8 mil foram constatadas e regularizadas. No ano passado, foram 600 mil inspeções e 454.689 imóveis regularizados. A distribuidora também mantém um convênio com o Disque-Denúncia. No ano passado, foram registradas 8099 denúncias na central e, nos canais da empresa, outras 7063. 

O Fluminense